Este texto faz parte da Coleção Contos Atlantes e está sendo divulgado em primeira mão aqui no site da Protexto:
Trovoadas rompiam o céu enquanto o célebre veleiro sobrevivia à força das ondas.
No convés, uma senhora de cabelos acinzentados levantava uma pequena arca e proclamava um encantamento secreto.
- Pelo Te Tra Gram Ma Ton eu conjuro os céus, a água, o fogo e o ar. Silfos do vento compareçam. Obreiros da terra fortifiquem meu cajado. Sereianos obedeçam-me. Salamandras que no fogo habitam ardam nas chamas. Pelo Pentagrama que carrego em minha destra: Fecha-te SÉ...
Porém, ela interrompeu seu ritual mágico e aos brandos prosseguiu:
Xcelssiuxs!
Enquanto dizia a palavra de poder,uma bolha azulada saiu de sua boca e rapidamente a encapsulou.
Uma explosão se ouviu no convés. Uma lança de fogo verde defletiu no campo de força que a envolvia e acertou o último dos sete mastros da embarcação, fazendo-o desabar.
- Tola! – Disse um jovem pardo que vestia roupas de couro, de guerra. – Crê que sua bruxaria pode impedir que eu leve o segredo ao meu Senhor?
- Tenho certeza disso, jovem mestre!
- Pois está enganada. Eu tenho uma missão e vou cumpri-la custe o que custar.
- Isto pode valer sua própria vida.– A senhora bateu seu bastão no piso e a grande esmeralda em sua ponta cintilou uma luz prateada, e depois continuou. – Guf et ignis!
O chão debaixo do jovem ruiu e ele despencou.
Ela retirou do bolso de suas vestes um anel. Nele havia uma pedra hexagonal de safira. Ligeiramente, encostou a jóia no trinco do misterioso baú que carregava e concluiu seu feitiço.
SAMO!
Treze pequenas serpes passaram a circundar a caixa. Elas tinham saído da própria madeira enegrecida que a constituía. Doze delas a lacraram com seu próprio corpo. A derradeira,entretanto, circundou o trinco e mordeu sua cauda. Suas presas brilharam por instantes, e depois, todas se fundiram à arca.
- O segredo está lacrado com os quatro elementos da natureza.
A bruxa sorria e a contemplava de braços erguidos os raios que a tempestade oferecia. Contudo, foi surpreendida pelo mantra de seu inimigo.
PRRR-I-MUS!
A caixa começou a tremer em suas mãos e se arremessou ao ar, caindo entre o mestre e a feiticeira.
Ambos travaram uma disputa na corrida.
No caminho havia inúmeros corpos de marujos decepados ao chão. A velha escorregou no sangue que escorria de um deles. O mestre avançava saltando e apontando uma espada de fogo esverdeado contra seu alvo.
PI-E-TRROS! – Disse ela direcionando seu bastão atlante para o rapaz.
O jovem, magicamente, ficou com os pés colados ao chão.
- Você é apenas um comensal, um patético servidor. Este segredo não pertence a seu Mestre, Chronos me deu essa tarefa e você não irá estragá-la!
- É o que veremos sua velha coroca. Libera!
Um jato de fogo atingiu seus pés e eles se libertaram, porém, já era tarde. A bruxa havia furtado seu intento e corria saltitando os defuntos caídos.
Enquanto fugia, ela pronunciava palavras mágicas e inaudíveis, até que sentiu novamente o baú tremendo como se estivesse vivo e largar, contra sua vontade, suas mãos.
A arca voou pelos ares ao mesmo tempo em que uma onda gigantesca cobria o veleiro e tudo que nele havia.
A senhora ainda viu quando o baú caiu nas águas tormentosas do ruidoso oceano e o jovem mestre acionando um cubo lúmen, que com sua luz fria e branca,transpassava todos os sólidos como se fossem feitos de cristal, enquanto a água banhada por ela ficara transparente como gel.
Em seguida, atirou-se em busca da arca, mas antes de sumir na tormenta, a mulher ainda ouviu, de longe, sua ameaça final.
- Vai morrer Pandora! Inercio!
E o veleiro, simplesmente, partiu-se em dois.
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