UM PRATO DE LIVROS!
– Viu só? Agora o governo é nosso! Nosso! – E daí? – Como, e daí? Agora chegou a hora do povo. Agora o nosso governo vai matar a nossa fome! – Quem está com fome? – Não seja alienado e anti-social, cara! São milhões! Ouviu bem? Milhões de brasileiros passando fome... – Eu acredito! – Finalmente! Já estava preocupado com sua posição, um tanto esquisita... Então acredita que o governo vai... – Calma! Não se afobe! Acredito, mas é na fome que o faminto nem sabe que tem. – Eh, rapaz! Que que é isso agora? O faminto sabe e sabe muito bem que tem fome, ora essa! – É! E eles sobreviveram tantos anos, esperando até chegar um governo que finalmente descobrisse isso? Me diga uma coisa: Por que ele, o faminto, não consegue matar sua fome? – Ora essa! Não consegue porque... Não! Ele sabe... Só não pode, porque... Ora essa! É que as injustiças sociais... Quero dizer, a marginalização... A globalização... Veja, o FMI, digo, os banqueiros. Não... Espere... Que pergunta estapafúrdia, homem! – Você é um privilegiado, estudou, tem múltiplos conhecimentos. Você vai passar fome algum dia? – Eu sei me virar... mas acontece que... – Agora sim você falou algo consistente. Você aprendeu a se virar.... Ótimo! É isso que precisamos fazer com urgência... – Isso o quê? Você tá louco? Quer mandar os nossos pobres famintos se virarem? Que falta de consciência social! Que absurdo! – Não se precipite. Olhe aqui! Eles não sabem, mas não é um ou três pratos de comida que precisam... – Mas você é mesmo um cara insensível. O que é, então? – Eles precisam de outra coisa. Veja... – Ah! Você é um... Você está me irritando, sabia? – Pare! Pare já! Escute! Você pode escolher seus próprios famintos. Saia por aí e escolha os seus. Dê a eles comida, roupa, comida, higiene, comida, água, comida, luz, comida, lazer, comida, casa, comida... – Não precisa exagerar.... – Vá fazendo isso, mas não pare nunca. Se parar, voltam todos os milhões de famintos... – Qual é sua brilhante idéia, então? – Diga pro governo dar a cada um deles, uma única vez, um prato bem cheio de livros.
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